Quando me casei e tive a minha primeira casa, compramos tudo novo, de linhas modernas e nos tons que se usavam na altura. Fomos também como muitos jovens casais ao IKEA e afins para dar à nossa o ambiente que queríamos.
Mas já na altura, e apesar de em tantas coisas a nossa casa ser semelhante a tantas outras, tinha de herança umas cadeiras antigas do meu avô que mandamos estofar, e um bengaleiro também antigo e que também tinha sido recuperado, e que davam à nossa casa um ar diferente.
Nos 7 anos que lá moramos a casa foi sofrendo alterações, até porque ainda foi lá que nasceu o Zé Maria, e percebi que os móveis novos que tínhamos comprado na altura eram os que eu menos gostava e que não me identificava de todo com eles.
Quando trocamos de casa, por altura do nascimento do António, acabei por vender esses móveis de que não gostava tanto, ou de os relegar aqui em casa para o sótão e para arrumações diversas…
Foi no ano que engravidei do António que consequentemente trocamos de casa, que a minha avó morreu, e que houve a necessidade de esvaziar a casa de aldeia, a casa dos meus bisavós.
Deu-se o caso que eu tinha agora uma casa muito maior e praticamente vazia, que se encheu dos móveis antigos inicialmente para encher o espaço, mas que rapidamente foram ficando e encontraram o seu espaço na nossa casa.
Da nossa casa antiga vieram o sofá, a nossa cama, o berço e a cama/sofá que estavam no quarto do bebé Zé Maria e que era também quarto de hóspedes, as cadeiras estofadas do avô e o bengaleiro antigo e pouco mais (e resto que veio, veio para arrumação e não para decoração).
Havia na casa dos meus bisavós um louceiro antigo que eu adorava e que me estava “prometido”. E era inicialmente a única coisa que eu queria para colocar na minha cozinha nova. Mas depois, ao entrar na casa e ver aqueles móveis ali, abandonados à sua sorte para serem dados, vendidos, abandonadas e até destruídos, acabei por achar que me podiam safar durante uns tempos.
Mas assim que olhei para eles e lhe comecei a ver as potencialidades e os destinava a recantos da minha nova casa, eles começaram a ganhar outra vida. Veio a velha mesa da adega, em cujas gavetas a minha avó fazia sabão. Essa mesa, assim como o louceiro foram recuperadas e estão desde então na minha cozinha. Vieram camas de ferro que são agora as camas dos rapazes. Veio um baú antigo que viajou até à América, uma cristaleira que se transformou num móvel bar, o antigo psiché da minha avó que está no meu quarto e as mesas de cabeceira da mobília dela que são agora as mesas de cabeceira dos miúdos. Veio um aparador, um canapé, mesas e mesinhas, sofás dos anos 60 que entretanto foram estofados também (apesar de já terem obras de arte da Benedita pintadas) um cadeirão que fazia parte da mobília de solteira da minha mãe, a mesa que tenho na sala de jantar, uma máquina de costura antiga, mesas, cadeiras e bancos porque isto é sempre uma casa cheia de gente e há alturas que são precisos lugares para sentar.
Os móveis velhos, de madeira, datados para muitos, deram alma à minha casa e eu adoro-os. Alguns ainda têm de ser recuperados, mas têm este lugar aqui em casa. Todos os dias que entro em minha casa, sinto que ela tem uma alma e um estilo que é só mesmo meu/nosso e não se enquadra em nenhum outro.
Foi por isso que ao longo dos quase 8 anos que já aqui moramos, foi herdando coisas dos avós do Miguel, e dos meus avós paternos. Coisas que foram sendo chamadas ao seu lugar nesta casa em vez de comprar novo. Cheguei à conclusão que gosto muito mais de coisas antigas do que dos móveis todos iguais, e que adoro misturar as coisas velhas com alguns apontamentos de coisas novas.
Não só móveis mas louças e roupa de casa também. Lençóis bordados, toalhas de mesa e colchas das que ficaram guardadas uma vida para ocasiões especiais, e que raramente viram a luz do dia, mas que agora estão a uso quase sempre, porque as coisas bonitas são para se usar.
Todos os dias me deito numa cama com lençóis bordados e com rendas - das minhas avós ou da avó do Miguel. Ou quando recebemos amigos as toalhas têm rendas e estiveram uma geração inteira sem ser usadas porque podiam ficar com nódoas.
Cheguei depois a uma fase que, em vez de comprar novo, sempre que precisava de alguma coisa, ia procurar primeiro nos baús e gavetas dos avós. Das coisas que elas não usaram e que provavelmente ninguém mais ia usar até acabarem num qualquer contentor ou doação a misericórdias ou igrejas.
A recente morte do meu avô levou-me novamente a revisitar móveis, roupas, quadros e louças… E voltei a trazer tudo aquilo que me chamou a atenção para fazer pequenas alterações e mudanças, e até os meus amigos já me perguntam se quero alguma coisa quando sabem que têm móveis antigos para “deitar fora”.
Por exemplo, as camas de ferro antigas dos meus filhos, receberam agora umas colchas “novas “ velhas, que estavam esquecidas em gavetas na casa do meu avô. Não são iguais, mas são de qualidade, bonitas (eu gosto), e depois de ter andado atrás de umas novas e nada me ter convencido - quer pela qualidade, quer pelo preço - percebi que estava à espera destas sem saber que eram estas que eu queria.
Claro que não servirá o gosto de toda a gente, mas deixo-vos este “desafio”: antes de comprarem novo, e se têm essa possibilidade, visitem sótãos e baús dos avós e dos pais. Descubram memórias para encherem a vossa casa de alma e a tornarem única com as vossas recordações. Procurem até móveis antigos e que possam pintar e transformar a vosso gosto. A sustentabilidade e a economia circular passam por muito mais do que só a alimentação e a roupa do nosso corpo. E às vezes basta olhar para as coisas de outro angulo para passarem a fazer mais sentido.
O maior elogio que me fazem, é quando conhecem a minha casa e me dizem que ela emana uma alma diferente e tem um estilo muito próprio.