Os tempos não estão fáceis para ninguém. Taxas de juro dos créditos à habitação a aumentar, a inflação, os gastos com a energia e os combustíveis. Ir ao supermercado e sentir que tudo sobe quase de dia para a dia…
É difícil deixar de fazer contas diárias, de fazer escolhas diferentes e de tentar poupar onde é possível. Não há dúvidas para ninguém como aumentaram os gastos com a alimentação, e como os orçamentos domésticos sofreram com esses aumentos.
Só quero esclarecer uma pequena coisa. Os nossos gastos de supermercado têm muito a ver com as nossas escolhas de todos os dias, tipo de alimentação - quem faz uma alimentação sem glúten, por exemplo - e muitos a ver com os nossos hábitos de consumo. Não é um julgamento, mas o que não é importante para mim, e não faz parte do meu carrinho de compras, como refrigerantes, iogurtes xpto, bolachas e bolachinhas, cereais kids, etc… são coisas que podem não ser essenciais, mas são essenciais para famílias para quem esses artigos fazem parte dos carrinhos de compras.
Um pacote de aveia e iogurtes naturais serão sempre mais baratos que cereais de chocolate e iogurtes cremosos com recheios vários. E muitas vezes gastos maiores no supermercado têm a ver com estes hábitos de consumo.
No entanto há coisas que podemos fazer, e ter atenção a isso pode fazer a diferença e fazer-nos poupar algum dinheiro na hora de ir às compras.
1 - Lista de Compras - Parece que estamos sempre a falar da mesma coisa. Mas uma lista de compras bem feita, principalmente a partir de uma ementa semanal já preparada, pode poupar-nos muito dinheiro, Porque em vez de colocarmos coisas aleatórias no carrinho, que não sabemos sequer se vamos precisar ou não, e que muitas vezes vão ficar esquecidas na despensa até passarem do prazo, ou no frigorífico até murcharem, vamos comprar o que efetivamente necessitamos para aquela semana. Nem mais, nem menos.
2 - Ir às Compras 1 vez por semana, em vez de passar no supermercado todos os dias - Se a vossa lista de compras estiver bem feita, e for bem planeada, acabaram-se as idas diárias ao supermercado porque nos esquecemos de qualquer coisa importante. Porque a maioria de nós nunca vai ao supermercado só comprar aquilo que falta, mas compra mais coisas que provavelmente não vai precisar. Limitar as idas às compras também limita os gastos, além de pouparmos tempo!!
3 - Comprar as quantidades necessárias - Se durante a semana comem 12 iogurtes, porquê comprar 14? Se precisam de 1 kg de arroz, para quê comprar 2 ou 3? Se consomem apenas 2 kg de maçãs para quê levar 3kg e depois ter de aproveitar maçãs murchas quando na semana seguinte voltam às compras e podem comprar novamente fruta, legumes e iogurtes “frescos”. Na maioria das vezes não justifica andarmos a fazer grande stocks de produtos, uma vez que vamos todas as semanas às compras. Eu prefiro o dinheiro no meu bolso do que investido em comida na despensa e no frigorífico, (que se pode acabar por estragar e é dinheiro no lixo) e tenho apenas coisas que preciso para essa semana e alguns extras que aproveito de promoções que valham mesmo a pena.
4 - Aproveitar Promoções e Artigos em proximidade de fim de validade - A excepção para stocks deve ser feita em artigos em promoção ou até de aproximação de validade. Mas atenção. Vale a pena fazer stocks de produtos que não fazem parte da nossa lista de compras habituais? Se não compro habitualmente bolachas, valerá a pena comprar 5 pacotes porque estão com 50% de desconto? Vale a pena comprar 10kg de arroz quando a diferença de preço é de apenas 0,10€. Não haverá entretanto outras promoções melhores antes de eu gastar os 10kg de arroz? Aproveitem as promoções mas não se deixem enganar. Se um artigo de marca tem 30% de desconto e ainda assim fica mais caro que a marca que compram habitualmente valerá a pena pagar mais? Há promoções enganadoras. Ponderem bem. Artigos como carne, peixe, congelados ou enlatados que usem regularmente são sempre aqueles que devem ter prioridade em promoções e stocks.
5 - Diversificar as compras - Sei que é controverso para algumas pessoas, mas para mim faz toda a diferença comprar em 2 ou 3 locais diferentes as compras da semana e acho que se conseguem poupar alguns euros significativos. As minhas frutas e legumes são comprados no comercio tradicional e diversifico por 1 ou 2 supermercados as minhas compras trazendo os produtos que para mim são de melhor relação qualidade/preço de cada um deles. No meu caso noto muita diferença em alguns produtos. No caso da fruta e legumes consigo melhor preço e melhor qualidade na frutaria onde vou, do que em qualquer supermercado.
E nem sempre vou na mesma semana a dois locais. Com uma lista bem feita dá para alterar o supermercado a cada 15 dias, trazendo de cada um deles os melhores produtos a cada 15 dias poupando assim também tempo além de dinheiro.
6 - Comprar sazonal - Frutas e legumes da época serão sempre mais em conta do que fora de época. Ter uma tabela dos ingredientes por estação permite-nos comprar os alimentos da época e até diversificar a nossa alimentação. Por exemplo, as courgetes são um fruto de verão e estão mais em conta assim que começa o calor do que em Novembro ou Dezembro. Nessas alturas podemos optar por abóbora ou outro legume dessa altura e ir fazendo essa gestão.
Outra coisa importante. No dia a dia não há necessidade de frutas importadas como mangas, abacaxi, papaia. Deixo sempre essas frutas para datas festivas e no dia a dia semanal apostamos em maçãs, peras, laranjas, clementinas, bananas, uvas, ameixas ou pêssegos, conforme a estação o ano (época) e de preferência sempre optando por fruta nacional. Por exemplo, morangos a 10€ o kilo quando aparecem ainda em Janeiro ou Fevereiro não é viável para mim. Mas basta esperarmos um mês ou dois e o preço baixa para menos de metade, assim que começa a época dele!
7 - Optar por alguns alimentos congelados e enlatados - Há muitos mitos associados a alimentos congelados e enlatados. Mas legumes congelados (leiam a composição porque há legumes que não são só legumes e têm farinhas e óleos na sua composição, normalmente quando são preparados prontos a cozinhar!) São praticamente tão nutritivos como os frescos, para além de vos poderem poupar algum tempo de preparação, porque basta “virar” para a frigideira ou panela. Além disso são, por norma, mais em conta que os alimentos frescos - mas comparem sempre os preços!
Carne e peixe congelados também são boas opções e mais uma vez não têm menor qualidade. São sim formas seguras de muitas vezes escoar stocks em excesso e de garantir que chegam ao consumidor e que têm maior durabilidade. Compro várias opções de peixe congelado, principalmente para algumas receitas e em minha casa há sempre brócolos, ervilhas, espinafres uma ou outra mistura de legumes para saltear. Assim garanto que nunca falta e é uma opção económica e que ajuda a diversificar a alimentação.
O mesmo se passa com enlatados: tomate pelado, leite de coco, atum em azeite, leguminosas (apesar de habitualmente demolhar e cozer as minhas leguminosas) são opções económicas e rápidas de preparar e algo que tenho sempre na despensa.
8 - Leguminosas - As leguminosas são económicas e nutritivas e uma forma de planear refeições dentro de um orçamento. Tentem incluir pelo menos uma refeição por semana em que as leguminosas sejam o prato principal - sem carne nem peixe. É uma forma de incluir refeições sem carne nem peixe, também diminuindo a pegada ecológica. Pessoalmente prefiro comprar em seco e demolhar e cozer em casa - que também fica mais em conta, mas a opção em frasco/lata é também totalmente viável.
9 - Respeitar o alimento como um todo - Se compram um alho francês inteiro desperdiçam a rama? E os talos dos brócolos? Não me digam que são dos que não aproveitam os pés dos cogumelos…. Compram um peixe inteiro e não levam a cabeça? Deitam fora os miúdos do frango? Pensem que todo o alimento vos custou a mesma coisa (e se compraram alho francês sem rama estão a pagar mais caro por isso). Portanto não desperdicem e respeitem todas as partes do alimento. A rama do alho francês bem picadinha pode ser refogada e aproveitada para acrescentar na sopa em vez de couve, ou num salteado de frango. Os talos do brócolos aproveitados no puré da sopa, a rama da cenoura num pesto, os miúdos de frango (se não gostam de os comer ) em caldos de carne caseiros ou para dar mais sabor a uma canja, e a cabeça do peixe e a espinha também podem fazer caldos e depois usar em massadas ou arroz de peixe.
10 - Fazer em casa - Fazer em casa pode ser uma forma não só de poupar dinheiro, mas também de terem a garantia de estão a comer alimentos que sabem como são feitos. Aqui temos também a questão do tempo - e tempo também é dinheiro - mas aproveitar que vão fazer um frango assado e fazer umas bolachas caseiras para o lanches dos miúdos em vez de comprarem feitas. Poderem fazer o vosso pão, ou manteiga de amendoim, ou um molho bechamel ou de tomate em vez de comprar. Fica mais barato, nem sempre demora assim tanto tempo, e de certeza que é, na maioria das vezes feito com melhores ingredientes.
Em ultimo caso, é tudo uma questão de orçamento. E o melhor conselho que vos posso deixar, além destas 10 dicas é comprarem a melhor qualidade que o vosso orçamento vos permitir.